domingo, 14 de agosto de 2016

Subversões do tempo

Se não for
neste minúsculo espaço
de tempo que sobra
entre um respiro e outro,
momento algum há de restar
para traduzir em versos
o atropelo dos fatos
depois de acordar.
Se aqui me prolongo,
falta-me ar.
Trabalhar.
Mais um tempo a passar.
Outro respiro.
Ar.

domingo, 22 de janeiro de 2012

E a Moral da Educação?

Este texto estava esquecido no meu e-mail há mais de 1 ano. Tinha começado a escrevê-lo, mas parei por falta de tempo. Então, pedi que minha irmã, Dayse Paula, acrescentasse mais algumas considerações. Ela fez a parte dela, mas até hoje eu ainda não havia parado para lê-lo e publicá-lo. Finalmente encontrei um tempinho.
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Trecho da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948:






 Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

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Fonte: Google Imagens
Nos últimos tempos, tenho percorrido caminhos que me levaram a buscar uma analise mais criteriosa dos conflitos entre as dimensões moral e intelectual da educação, no sentido de responder a questionamentos tais como: até que ponto o professor deve se preocupar e se empenhar para promover o desenvolvimento moral dos alunos?
Achei bastante forte essa questão. Não há dúvidas de que para se ter uma educação integral, ambas as dimensões devem caminhar juntas. Mas percebo que existe um tabu dentro da escola quando o assunto é desenvolvimento moral, assim como vejo dentro das igrejas uma grande despreocupação com o desenvolvimento intelectual. Parece até que houve uma distribuição de responsabilidades e que cada instituição cumpre a sua tarefa sem admitir interferências.
E agora, o que fazer? Assumir isso como uma questão cultural e, ao ir para o trabalho - nós, professores - guardarmos nossos ideais e valores numa caixinha para não corrermos o risco de exercer alguma influência nos ensinamentos familiares e religiosos de âmbito moral dos alunos, centrando-nos apenas no desenvolvimento intelectual? Felizmente não é isso que é defendido no Artigo XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos, reproduzido acima. 
Se temos uma religião, uma filosofia de vida, uma ideia sobre o que é certo e o que é errado, uma concepção sobre sexualidade, um gosto musical, um partido político, uma comida preferia, é porque fizemos, em algum momento de nossa vida, uma escolha. Logo, como querer mascarar/esconder/camuflar essas escolhas na atividade educativa, almejando uma falsa neutralidade? Tudo o que falamos ou fazemos está carregado dessas escolhas que fizemos. Somos, no fundo, resultado delas.
É fato, porém, que as escolhas são compatíveis ao estágio de evolução moral de cada um. Nesse sentido, dado que temos liberdade de manifestação de pensamento, consciência e religião pelo ensino, a resposta à minha questão inicial - até que ponto o professor deve se preocupar com o desenvolvimento moral dos alunos? - pode mudar de perspectiva. A influência que exercemos pelo simples contato com os alunos já é uma influência de âmbito moral. Então, talvez a questão correta fosse "até que pondo o professor deve se preocupar com seu próprio desenvolvimento moral?", pois isso implica reavaliar suas escolhas e refletir sobre suas atitudes, na busca de sua reforma pessoal. 

Por Dayse Paula: 
Estamos carregados das nossas escolhas e nos nossos relacionamentos essas escolhas ficam evidentes. Daí entra o tal do preconceito, se eu mostrar como realmente sou, fico vulnerável às críticas alheias, por isso em grande parte das vezes eu finjo ser "neutro". Se tomarmos como exemplo os grandes martíres da humanidade é possível perceber que eles se tornaram exemplos a serem seguidos por defenderem aquilo que acreditavam com o objetivo de transformar o mundo. Na verdade não tomamos isso como exemplo, temos medo de nos expor.
Um professor que toma essa postura diante dos seus alunos está livre das críticas dos pais, dos colegas, mas não está dando tudo de si. Está na superfície e é necessário ir até as profundezas do vasto campo da pedagogia para extrair o que há de melhor nos alunos. Acho até que os alunos tendem a levar isso para casa, essa neutralidade, essa aceitação de tudo sem se questionar, sem discordar, sem opinar sobre as coisas.

O professor, aquele que prepara os cidadãos para o futuro não deve compactuar com isso.

As crianças passam grande parte do seu tempo na escola. Será que existe uma maneira de deixar a moral em casa e ir para a escola? Na hora de voltar para casa é possível deixar o cérebro no armário?

Desenvolvimento intelectual faz com que pensemos mais sobre o mundo, sobre os nossos valores éticos e morais. O desenvolvimento moral só é possível por meio de pensamentos e questionamentos críticos em relação a mim e ao mundo. Logo, não dá para separar o inseparável, uma coisa depende da outra.

domingo, 13 de março de 2011

Conto: Uma História de Maria


A Maria era daquelas, coitada, que não sabem juntar b com a. Burrinha, tadinha. Nunca entrou numa escola. Sempre que começava uma conversação, invocava a Nossa Senhora. Era fatigada, meio gorda e desdentada. Cara ruim que só. Até a ponta do cabelo era amassada. Tinha ânimo nem pra levantar, preferia sentar, deitar, cochilar. E se não tinha controle, não tinha TV. Ia pra cama sem se lavar. A mulher era fã do pão-salsicha-purê. Tinha uma perna maior que a outra, não usava maquiagem. Hábitos noturnos e às vezes selvagens. Tinha tempo de sobra pra fazer nada do que precisaria. Ah Maria, quem diria...
Foi com susto que ela recebeu o convite do Nirto para casar e ir morar noutro lugar. E no mesmo susto foi que ela aceitou sem hesitar. Era o sonho da Maria conhecer o Rio. Aquelas mulheres secas feito fio, andando de biquíni pra lá e pra cá. Aqueles moços fortes e com grana, dando uma de bacana, saindo com a prancha molhados do mar. Tudo isso deixava a bichinha doidinha. Parecia que ia entrar na televisão. Mas agora ia assistir a novela fora da ficção. Maria disse sim no altar para uma vida nova. E foram, ela e o marido, para a cidade maravilhosa viver felizes para sempre.
As coisas demoraram a se acertar: foi a hora em que tudo parou de rimar. Por lá, nada de novela, nem biquínis ou pranchas. O tempo escureceu de vez. Maria descobriu que a vida é mais difícil quando tardamos a dá-la a devida importância. E que depois de sofrer é necessário ter forças para recomeçar. E recomeçaram! O casal foi chamado pra trabalhar para a dona Clarice – uma senhora separada que acabara de chegar da Europa com os filhos. Ele seria o motorista e ela, a arrumadeira. Eles ocupariam o quarto de empregados. O salário seria pouco, mas para quem nunca trabalhou já era grande coisa. O apartamento era aconchegante e bem localizado no bairro do Leme.
A patroa não tinha muitas exigências, só gostava de silêncio; talvez por estar enfrentando dificuldades afetivas e financeiras. Passava horas e horas, às vezes dias inteiros, trancada no escritório. Maria morria de curiosidade, mas continha-se. Não era direito ficar bisbilhotando as coisas da patroa. Certa vez ouviu-a gritar lá de dentro: “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome!”, repetindo algumas vezes. A coitada pensou que a velha estivesse louca, mas nem ligou. Voltou à louça. A propósito, só Deus sabe o quanto ela sofreu pra aprender a lavar, passar, cozinhar. Mas Maria, porque Maria, superou.
A jovem estava satisfeita. Não tinha muitas pretensões. Uma das únicas coisas que desejava realmente era que o Nirto fosse um pouquinho mais forte. Não por vaidade, absolutamente. Mas para carregá-la nos braços até a praia, de madrugada, para fazerem amor. Foi o que disse certa vez à dona Clarice durante uma das muitas conversas que vinham tendo. E não é que as duas começaram amizade. A patroa sentia como se descesse do salto para trocar ideias fúteis com a empregada; e isso a fazia surpreendentemente satisfeita. Ela admirava a simplicidade da coitada com a sensibilidade de quem contempla um quadro bem pintado. E tal admiração foi crescendo e se tornando cada vez mais recíproca.
Certo dia Clarice confidenciou a Maria sua paixão por escrever. Era coisa que fazia com alegria, de noite ou de dia, bastava a ideia nascer. E em forma de reconhecimento, por não dispor de outro instrumento, a amiga propôs presentear; contando com seu consentimento, disporia de seu conhecimento para num livro a sua história contar. Maria explodia de alegria por ver sua vida voltar a rimar. Mas Clarice morrera dali alguns dias, deixando tristeza e angustia em seu lugar. O que a empregada não esperava era que a patroa ainda guardava um segredo que a consumia. Ao lerem seu testamento descobriram seu intento de deixar tudo a Maria.

Por Thiago Mena

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sobre a monografia e a falta de tempo

Há momentos na vida em que você tem que escolher: ou escreve no Blog ou termina sua monografia. Mediante muito esforço, mas muito mesmo, escolhi a segunda opção. Excepcionalmente hoje resolvi parar pra respirar uns dois minutos  e passei por aqui antes de retomar. Fez falta... Então, para compensar o tempo que estive distante, ai vai um resumo daquilo que tomou toda a minha atenção durante estes últimos dois meses. Resumo da minha monografia:


Ensaios sobre a construção do conceito de Desvio Padrão: contribuições do jogo Enigma do Histograma
Esta pesquisa teve por objetivo explorar as potencialidades didáticas do jogo Enigma do Histograma no processo de construção e desenvolvimento do conceito de desvio padrão por professores de matemática. Esse jogo é um aplicativo computacional desenvolvido pelo próprio autor em pesquisas anteriores e consiste em uma seqüência de situações-problema envolvendo os conceitos de média e desvio padrão, a serem resolvidas a partir de um histograma interativo. Realizamos a aplicação do jogo para cinco alunos do curso de Mestrado Profissional em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo durante uma aula da disciplina de Estatística Descritiva cedida pela professora. Todos os participantes eram professores de matemática em exercício e já haviam tido contato com os conteúdos que estávamos trabalhando, tanto na graduação quanto no mestrado. A análise da aplicação evidenciou a grande dificuldade dos participantes em interpretarem a média e o desvio padrão a partir do registro gráfico, sem a utilização dos algoritmos de cálculo, e a fragilidade da apreensão conceitual sobre essas medidas apresentada pelos mesmos. Consideramos que o jogo contribuiu para elevar o nível de raciocínio utilizado pelos participantes na interpretação tanto da média quanto do desvio padrão, por viabilizar o apuramento dos argumentos explicitados por eles a partir de um processo de reflexão. Contudo, a mediação do pesquisador e da professora que acompanhou a aplicação, nesse processo, foi fator fundamental  para promover o avanço no nível de raciocínio – que não chegou a ser mensurado devido à limitação do tempo. Nesse sentido, sugerimos que, em pesquisas futuras, esse jogo seja estudado como parte integrante de uma sequência didática e seja avaliado por meio de uma escala adequada de níveis de raciocínio estatístico.

Palavras-chave: Desvio Padrão, Conceito, Jogo

sábado, 18 de setembro de 2010

Reflexões sobre Educação em Dora Incontri

Há cerca de três meses ouvi o nome de Dora Incontri pela primeira vez, em uma conversa informal durante um almoço na casa de meu pai. A partir dai, passei a me dedicar à leitura e ao estudo de uma de suas mais belas obras: o livro "A Educação segundo o Espiritismo". Esse livro se tornou meu companheiro inseparável nesses últimos dias. Hoje, com satisfação, e já com um pouco de saudades pelo fim do livro, venho tecer alguns comentários e, como não poderia deixar de fazer, registrar algumas frases de impacto expressas pela autora.  

Inicialmente, é necessário ressaltar que se trata de um livro instigante e inquientante. Daqueles que proporcionam uma semana de reflexão por parágrafo lido. Escrito de maneira clara e objetiva, passível de ser compreendido tanto por espíritas quanto por não-espíritas. Dora Incontri traz uma visão de Educação que integra as múltiplas vertentes do desenvolvimento humano, o que preenche de maneira coerente e fundamentada as lacunas da pedagogia atual. É um livro que não pode esperar mais para ser lido.

Eis, a seguir, algumas frases do livro que julguei interessantes, divididas por capítulos: 


IV. Fundamentos da Educação
"Educação é toda influência exercida por um Espírito sobre o outro, no sentido de despertar um processo de evolução. Essa influência leva o educando a promover autonomamente o seu aprendizado moral e intelectual. Trata-se de um processo sem qualquer forma de coação, pois o educador apela para a vontade do educando e conquista-lhe a adesão voluntária para uma ação de aperfeiçoamento." (p. 42)
"Educar é pois elevar, estimular a busca da perfeição, despertar a consciência, facilitar o progresso integral do ser." (p. 42)
"Educação intelectual é mais do que isso. É despertar a capacidade de auto-instrução, é formar o pesquisador de verdade, o amante da sabedoria, e provocar um ímpeto de busca e não apenas entregar algumas informações." (p. 45) 

XII. O Educando na Adolescência 
"Num planeta inferior como o nosso, ainda a predominância é do mal. Apesar disso, existem exceções. É preciso procurá-las com atenção." (p. 125)
"É claro que para se ter personalidade e ser diferente dos outros, não é preciso adotar atitudes que choquem a maioria, apenas com o objetivo de ser original. Pode-se perfeitamente usar calça jeans e ter uma cabeça própria. Mas é preciso proporcionar a oportunidade de reflexão e crítica, em que o indivíduo construa seu raciocínio e sua visão de mundo, sob a inspiração de pessoas elevadas e ideias sensatas e não se deixe invadir pelas vagas, confusas e incoerentes visões, que lhe chegam de toda a parte." (p. 126)

XVI. A Educação Moral 
"A moralidade é o pano de fundo, sobre o qual todas as outras qualidades do Espírito ganham brilho. O atraso moral, ao contrário, ofusca as mais belas conquistas da inteligência e da criatividade, da Ciência e da Arte." (p. 152)
"...pois quando, nas mínimas ações, perseveramos na execução até o final, vamos aprendendo a dominar a vontade." (p. 157) 

XVII. Educação Intelectual
"A concepção mais comum e ainda vigente em nosso sistema escolar é baseada muito mais na memória de conteúdos prontos do que num real desenvolvimento da mente." (p. 165)
"O próprio progresso material e tecnológico, científico e humanista do mundo está nos indicando algo que deve fazer parte do nosso Espírito: o empenho permanente de aprender e renovar-se, descobrir e elevar-se." (p. 165)
"A tecnologia hoje contribui para a democratização do conhecimento, pelas mídias e pela informática. [...] O que resta ao homem? Tudo. A criação, a interpretação subjetiva, filosófica, a sensibilidade, o julgamento crítico, a interação global do conhecimento..."
(p. 165-6)


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ajude-me a lutar contra isso!

Há tanta gente defamando a educação hoje em dia que quando você tenta ter uma opinião diferente é quase banido da conversa. Às vezes é melhor desistir e se juntar à maioria, maldizendo os professores, os governantes, os alunos, as escolas, as diretoras, os pais, as mães, as emissoras de televisão... Enfim, tem hora que sobra até pra Deus.

O processo é este: os mais velhos da "tribo" se encarregam de ensinar às próximas gerações toda a cultura "reclamística" que foi se desenvolvendo no decorrer dos anos. Então os mais novos - com exceção dos prodígios da "tribo" que desenvolveram o dom de questionar - de tanto ouvir, começam a repetir. Rapidamente, de tanto repetir, esses passam a criar uma ideologia. E acreditando naquilo, passam a defender, a colocar em prática, a fazer virar realidade.

Eu pergunto apenas: Valeu a pena???

E Fernando Pessoa me responde: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena."

E eu volto a perguntar: Mas e quando a alma é sim pequena? 



Cri... Cri... Cri...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Educação & Vida


"A única finalidade da vida é mais vida.
Se me perguntarem o que é essa vida, eu lhes direi que é mais liberdade e mais felicidade.
São vagos os termos.
Mas, nem por isso eles deixam de ter sentido para cada um de nós.
À medida que formos mais livres, que abrangermos em nosso coração e em nossa inteligência mais coisas,
que ganharmos critérios mais finos de compreensão,
nessa medida nos sentiremos maiores e mais felizes.
A finalidade da educação se confunde com a finalidade da vida."

         (Anísio Teixeira)



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